Manga nos eua: bastidores da publicação com a square enix

O mercado de mangá nos Estados Unidos está em constante evolução, e uma visão interna de como funciona esse setor é valiosa para entender as tendências e desafios. Uma conversa com Morgan Perry, gerente de marketing da Square Enix Manga & Books, revela alguns aspectos cruciais sobre o cenário atual.

Perry, que iniciou sua trajetória profissional no universo dos quadrinhos ocidentais, conta que sua transição para o mangá sempre foi um objetivo. Ela acompanhava de perto as vendas de mangás tanto no mercado ocidental quanto no japonês, notando um aumento no interesse pelo formato nos EUA, mesmo antes da pandemia. Esse crescimento, aliado a mudanças nos hábitos de consumo de mídia e à maior acessibilidade a mangás e animes, impulsionou sua decisão de se candidatar a uma vaga na Square Enix.

A experiência de Perry na Square Enix, a divisão de publicação de uma empresa conhecida principalmente por videogames, tem sido única. Ela explica que uma grande parte de seu trabalho inicial envolvia informar as pessoas de que a Square Enix também publicava mangás. A divisão de mangá e livros da Square Enix nos EUA é relativamente nova, com apenas seis anos de existência, o que significa que seu catálogo é bastante selecionado. Essa curadoria, combinada com o apoio de sua distribuidora, Penguin Random House, tem contribuído para o sucesso de seus títulos.

Um dos desafios enfrentados pela Square Enix é a existência de títulos licenciados do Japão que já haviam sido concedidos a outras editoras antes de sua formação. Títulos como “Fullmetal Alchemist” e “Black Butler” são populares, mas a Square Enix não os possui em seu catálogo, o que pode gerar confusão entre os varejistas.

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Perry destaca que um dos principais desafios da publicação de mangá nos EUA é a aceitação do formato no mercado de quadrinhos ocidentais. Muitas lojas de quadrinhos hesitam em estocar mangás devido a preocupações com espaço, capital e falta de conhecimento sobre os produtos. Ela acredita que os varejistas de quadrinhos precisam diversificar seu inventário com mangá para sobreviver.

Outro desafio único do mercado norte-americano é que a maioria dos leitores de mangá são adolescentes, enquanto a maioria dos compradores tem mais de 18 anos. Com o fechamento de muitas livrarias físicas que construíram o público de mangá na América do Norte, os adolescentes têm menos acesso e poder de compra online, o que dificulta a conversão de leitores em compradores.

Apesar dos desafios, Perry observa tendências promissoras, como o aumento de aquisições de títulos BL (Boys’ Love) e GL (Girls’ Love), bem como uma maior representação LGBTQ+. As editoras também estão adquirindo mangás “clássicos” que nunca foram lançados nos EUA ou relançando títulos já publicados em edições especiais.

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Em termos de crescimento na Square Enix, Perry destaca os esforços direcionados ao mercado direto (lojas de quadrinhos) e às bibliotecas. Embora esses canais geralmente gerem menos receita, eles oferecem oportunidades significativas para o crescimento do mangá e são cruciais para a descoberta por parte dos fãs nos EUA.

Entre os títulos futuros e lançamentos recentes que a entusiasmam, Perry menciona “A Starlit Darkness” de Yuu Toyota (criador de Cherry Magic!), “Mechanical Buddy Universe 1.0”, “My Favorite VTuber is Scary IRL”, “Daemons of the Shadow Realm” de Hiromu Arakawa e “Mr. Villain’s Day Off” de Yuu Morikawa.

Fonte: animebythenumbers.substack.com